Como controlar a ansiedade?
Discute a ilusão de controle sobre o Outro e o mundo. Propõe que a chave é a aceitação da imperfeição e a rendição aos limites da nossa influência, acalmando a espiral dos "E se...".
PSICOLOGIAPSICANÁLISEANSIEDADE
João Pedro Borges
10/17/20252 min read
A ansiedade é o nosso mais terrível hóspede, um morador interno que não paga renda e que, muitas vezes, toma conta de todo o edifício psíquico. Para a entender, devemos encará-la como o animal bravo e assustado que carregamos no peito ou como o bebé que chora no meio da noite e que exige uma resposta imediata e total.
Este bebé não chora apenas por fome ou desconforto físico. Ele clama por algo mais profundo: o reconhecimento de que, fora do nosso eu, o mundo se move por leis que nos são estranhas.
A Ansiedade e a Tirania do Controle
A grande tragédia da ansiedade reside na nossa crença ilusória de que podemos gerir o curso dos acontecimentos externos. É a tentativa desesperada de fechar a lacuna que reside entre a nossa intenção e o resultado final.
Por exemplo, fazemos o que podemos e como podemos – preparamo-nos, agimos, comunicamos – mas o resultado está sempre sujeito à interpretação do Outro. O Outro, com os seus próprios filtros e medos, nunca vai entender exatamente o que você quer dizer, como você quer dizer.
A mente ansiosa, contudo, recusa-se a aceitar essa falha inerente à existência. É aí que ela entra na espiral sufocante dos "E se...":
Mas e se ele fizesse alguma coisa?
E se a decisão fosse mal interpretada?
E se o medo se concretizasse?
Estes são os uivos do animal bravo, as perguntas que nos mantêm reféns da incerteza.
Aceitar a Imperfeição
O que fazer para acalmar esta fera interna? A chave não é dominá-la, mas sim reconhecer que a nossa perceção é a única coisa que controlamos. Não dá pra saber, não temos controle sobre as ações ou as interpretações alheias.
A linguagem é, por natureza, uma ferramenta imperfeita que sempre vai deixar essa lacuna entre o que se diz e o que se entende. E não tem como mudar isso. É uma condição da vida, não um defeito pessoal.
Portanto, o ato de controle sobre a ansiedade é um ato de rendição. É aceitar que fizemos o que estava ao nosso alcance, e que o resto pertence ao campo do Incognoscível, ao falível Outro, ao mundo caótico lá fora. Quando paramos de tentar forçar a perfeição sobre um sistema inerentemente falho, o bebé pára de chorar com tanta veemência, e o animal bravo começa, finalmente, a encontrar repouso.


